propriedades medicinais presentes nas plantas e suas aplicações na saúde pública.
Ainda existe muito preconceito e desinformação sobre a fitoterapia. Muitas pessoas associam a
fitoterapia a medicamentos vibracionais (homeopatia, florais, etc.) dentre outros.
Como em geral, os medicamentos vibracionais são de difícil análise pela busca de princípios
ativos e a validação de seus resultados e efeitos são questionados frequentemente por
cientistas mais ortodoxos, em parte pelo excessivo materialismo e em parte pelo lobby das
indústrias farmacêuticas; esses medicamentos vibracionais acabam, frequentemente, sendo
alvo de polêmicas e campanhas difamatórias, dividindo a sociedade, inclusive a científica.
Tratando-se especificamente da fitoterapia, dizemos que ela não pertence à classe de
medicamentos vibracionais, pois os princípios ativos presentes na planta e que possuem efeito
sobre o corpo, podem ser isolados, purificados, quantificados e estudados exaustivamente em
laboratório, podendo ser os seus resultados repetidos e validados por diferentes laboratórios
ao redor do mundo, utilizando-se até mesmo diferentes metodologias.
A grande maioria dos medicamentos comprados em farmácias e drogarias, atualmente, tem a
sua origem nas plantas, por exemplo: a morfina que é extraída das papoulas (Papaver
somniferum) e utilizada no combate a dores intensas de pacientes em estado gravíssimo, a
Aspirina® que tem a sua origem no salgueiro (Salix alba), o Valium® que tem sua origem na
Valeriana (Valeriana officinalis), dentre inúmeras outras plantas que se fossemos citar aqui,
transformaria esse texto em um livro. (2,6,10).
A fitoterapia é a maneira mais antiga que as civilizações têm para tratar doenças. Múmias de
homens primitivos foram encontradas com bolsas de couro, contendo folhas de plantas
conhecidas atualmente e com propriedades medicinais comprovadas cientificamente. Os
egípcios e gregos possuem registros imensos, bem como os sumérios e babilônios, do uso de
plantas medicinais e até mesmo dos óleos essenciais, tanto sendo aplicados em cosméticos
como medicinalmente.
Até hoje, o livro do grego Dioscórides, que viveu dos anos 40 a 90 D.C., é uma das principais
referências de plantas medicinais, Dioscórides é considerado o pai da Farmacognosia, que é a
parte da ciência farmacêutica que estuda a origem dos fármacos, a maneira de isolá-los das
plantas (dentre outras matérias primas naturais) e a aplicação desses compostos na saúde.
A fitoterapia possui a vantagem de ser barata, quando comparada a outros medicamentos que
costumamos comprar nas farmácias, afinal, podemos cultivar os nossos medicamentos no
quintal de casa ou até mesmo na varanda de um apartamento, então além do custo baixo
temos também a acessibilidade, inclusive por parte de pessoas carentes que não teriam acesso
ou como adquirir medicamentos tradicionais.
Foi pensando nessa dificuldade que o falecido professor e farmacêutico Abreu Matos idealizou
o projeto “Farmácias vivas” que foi oficialmente reconhecido pelo sistema de saúde do Brasil
pela RDC 18 de 03 de Abril de 2013.
Hoje, no Ceará, existem aproximadamente 40 farmácias vivas que são uma mistura de hortos e
laboratórios farmacêuticos que dispensam mudas de plantas medicinais e fitoterápicos para a população carente, que também recebe a correta orientação na forma de utilização dessas
plantas medicinais. Porém, há que se ter cuidado no uso das plantas medicinais, pois elas possuem princípios ativos que na dosagem errada ou em alguns casos específicos (grávidas, pacientes
comprometidos, etc.), podem, assim como os medicamentos tradicionais, causarem danos à
saúde, sem contar que a forma e o local de cultivo, coleta e tratamento das plantas é de
extrema importância na qualidade do fitoterápico.
Isso também vale para os óleos essenciais que são extraídos das plantas e também possuem
propriedades medicinais. Por esse motivo, existem profissionais de saúde com formação
específica em fitoterapia que são capacitados para indicar a correta utilização das plantas
medicinais pela população, sem colocar em risco a vida de quem faz uso da fitoterapia.
Vale também ressaltar que a história de uso de uma planta medicinal por uma comunidade,
não significa necessariamente que a planta seja segura para consumo. Algumas plantas que
eram utilizadas por comunidades até pouco tempo atrás, posteriormente foram levadas para
os laboratórios e pesquisas mais recentes mostraram que o uso dessa planta de forma
constante, pode causar danos à saúde. Dentre essas plantas, podemos citar a Aristolóquia
(Arystolochia cymbifera), também conhecida popularmente por “Papo de Peru” ou “cipó mil
homens”. Seu uso via oral por tempo prolongado, segundo estudos científicos, pode causar
tumores renais (5).
Que isso não seja um motivo para não fazermos uso da fitoterapia. Todos os dias estudos são
feitos em laboratórios ao redor do mundo todo, buscando e validando várias plantas
medicinais para as mais variadas doenças, e mesmo quando a planta é tóxica, em geral ela
acaba passando por transformações e se tornando um fármaco antitumoral, ou até mesmo um
antibiótico ou antiviral. Afinal, como dizia Paracelso o antigo alquimista: “A diferença entre um
veneno e um medicamento é a dosagem”.
Mas poderia ser a fitoterapia uma aliada nos males atuais, tais como, ansiedade, depressão ou
síndrome do pânico?
Atualmente a vida corrida, a insegurança, os compromissos sociais e financeiros são
causadores de boa parte desses quadros clínicos psiquiátricos e a resposta para a pergunta
acima é: Sim, poderíamos com toda certeza fazermos uso da fitoterapia e da aromaterapia
como maneiras de tratar quadros de ansiedade, síndrome do pânico e depressão.
Plantas como a Kava Kava (Piper methysticum) (11), Maracujá (Passiflora sp.) (3), Louro (Laurus
nobilis) (9), Melissa (Melissa officinalis) (7), Erva de são João (Hypericum perforatum) (4),
Lavanda (Lavandula sp.) (1,8), dentre outras, já foram validadas cientificamente e possuem
efeitos terapêuticos diversos sobre vários desses quadros clínicos mencionados.
Devemos novamente chamar a atenção para o fato de que essas plantas medicinais podem
eventualmente interagir com outros medicamentos e até mesmo com alimentos, daí a
necessidade de consultar um profissional de saúde que tenha formação em fitoterapia, pois
essas interações podem causar problemas ao invés de auxiliar, assim como acontece com a
maioria dos fármacos que compramos em farmácia, daí a importância do(a) farmacêutico(a)
clínico(a) para orientar corretamente sobre a utilização desses fármacos.
A fitoterapia e a aromaterapia se forem corretamente utilizadas, podem em alguns casos
substituir perfeitamente o uso da medicação alopática de maneira muito mais barata e por esse motivo tem sido atacada pelo lobby das grandes indústrias farmacêuticas; mas uma vez
que entendamos sobre a origem dos medicamentos que utilizamos comumente, fica claro que
a validação do uso das plantas medicinais pelos sistemas de saúde dos países, acaba sendo
uma importante ferramenta na escolha da terapia que desejamos utilizar, inclusive sendo essas
duas (Fitoterapia e Aromaterapia) terapias naturais e em alguns casos, com menos efeitos
adversos quando comparados a muitos medicamentos tradicionalmente utilizados e comprados em farmácias.
Bibliografia
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