O impacto da Leitura na Saúde: Quem lê vive mais?

A leitura é muito mais do que uma simples atividade de lazer; é uma prática que pode ter um impacto profundo em nossa saúde física e mental. Diversos estudos científicos têm evidenciado os benefícios da leitura para o cérebro, o coração, o controle do estresse e até mesmo para a longevidade. Vamos explorar como esse hábito pode influenciar positivamente diferentes aspectos da nossa saúde e como isso se reflete em algumas estatísticas globais?


Impacto das Histórias no Cérebro


O estudo realizado por Kidd e Castano (2013) e publicado na revista “Science” investigou o impacto da leitura de ficção literária na teoria da mente. A teoria da mente refere-se à capacidade de compreender os pensamentos, emoções e intenções dos outros. Os resultados do estudo sugeriram que a leitura de ficção literária, em comparação com a leitura de não ficção ou não leitura, está associada a uma melhoria na capacidade de inferir e compreender os estados mentais das pessoas, essencialmente fortalecendo a empatia e a compreensão interpessoal. Isso ressalta o potencial da literatura como uma ferramenta poderosa não apenas para entretenimento, mas também para o desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais essenciais.


Saúde Cerebral: Expandindo Horizontes e Fortalecendo Conexões Neuronais


A leitura regular estimula diversas áreas do cérebro, fortalecendo conexões neurais e ajudando a preservar a função cognitiva à medida que envelhecemos. O estudo conduzido por Arce Rentería et al. (2019) e publicado no periódico “Neurology” investigou a relação entre o analfabetismo, o risco de demência e as trajetórias cognitivas em adultos mais velhos com baixa escolaridade. Os resultados destacaram a importância da educação na proteção contra o declínio cognitivo relacionado à idade e na redução do risco de desenvolvimento de demência. A pesquisa ressalta a necessidade de intervenções educacionais e políticas públicas voltadas para o combate ao analfabetismo e o fortalecimento da educação básica, visando proteger a saúde cerebral e promover o envelhecimento saudável.


Estudos têm demonstrado que pessoas que mantêm o hábito de ler ao longo da vida apresentam um menor declínio cognitivo em comparação com aquelas que leem pouco ou nada. A leitura também pode reduzir o risco de desenvolvimento de doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer. O estudo conduzido por Wilson et al. (2013) e publicado na revista “Neurology” examinou a relação entre a atividade cognitiva ao longo da vida, o ônus neuropatológico e o envelhecimento cognitivo. Os pesquisadores acompanharam um grande grupo de participantes ao longo do tempo, coletando dados sobre suas atividades cognitivas, bem como realizando autópsias cerebrais para avaliar a presença de patologias neuropatológicas, como placas e emaranhados associados à doença de Alzheimer. Os resultados revelaram que uma maior atividade cognitiva ao longo da vida estava associada a um menor ônus neuropatológico no cérebro, mesmo entre os indivíduos que desenvolveram doenças neurodegenerativas. Além disso, foi observada uma associação entre a atividade cognitiva mais intensa e uma taxa mais lenta de declínio cognitivo relacionado à idade. Esses achados destacam a importância de manter a mente ativa e engajada ao longo da vida como uma estratégia potencialmente protetora contra o declínio cognitivo associado ao envelhecimento e às doenças neurodegenerativas.

Saúde Cardiovascular: Um Capítulo de Proteção para o Coração

Surpreendentemente, a leitura regular pode ter um impacto positivo no coração. Uma pesquisa publicada no British Journal of Psychology descobriu que apenas seis minutos de leitura reduzem a frequência cardíaca e diminuem a tensão muscular, ajudando a reduzir a pressão arterial. Além disso, o hábito de leitura está associado a um menor risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

O artigo “How stories and narrative move the heart—literally” de Beans (2022), publicado nos “Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America”, explora o intrigante fenômeno de como as histórias e narrativas podem afetar o coração de uma forma literal. A pesquisa revela que ouvir ou ler uma narrativa envolvente pode desencadear respostas fisiológicas no corpo humano, incluindo mudanças na frequência cardíaca e na atividade cerebral.

Beans (2022) apresenta evidências de que as histórias têm o poder de evocar emoções profundas nos ouvintes ou leitores, que por sua vez influenciam a função cardíaca. Essas respostas emocionais podem desencadear uma série de reações no sistema nervoso autônomo, levando a mudanças na frequência cardíaca, pressão arterial e produção de hormônios relacionados ao estresse.

O estudo destaca a importância de compreender como as narrativas afetam o corpo humano não apenas como uma curiosidade científica, mas também como uma ferramenta potencial para melhorar a saúde e o bem-estar. Por exemplo, a utilização de histórias em intervenções terapêuticas pode ajudar a reduzir o estresse, promover a empatia e fortalecer os vínculos sociais.


Controle do Estresse: Uma História de Relaxamento e Equilíbrio


Em um mundo cada vez mais frenético, a leitura pode ser um refúgio de calma e tranquilidade. Estudos mostram que a imersão em um bom livro pode reduzir os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, proporcionando uma sensação de relaxamento e bem-estar. A leitura também estimula a imaginação e a criatividade, oferecendo uma forma saudável de escapismo das preocupações do dia a dia.  Estudos têm demonstrado que apenas seis minutos de leitura são suficientes para reduzir os níveis de estresse em até 68% (Law et al, 2009).


Um estudo recente conduzido por Levine et al. (2022) revelou que o hábito de leitura recreativa tem o poder de reduzir o estresse psicológico em estudantes universitários. Os pesquisadores descobriram que a motivação autônoma desempenha um papel crucial nesse processo. Quando os alunos leem por prazer e autonomia, experimentam uma diminuição significativa na angústia psicológica. Isso destaca ainda mais a importância da leitura não apenas como uma fonte de entretenimento, mas também como uma ferramenta eficaz para promover o bem-estar mental. Outro estudo mencionado, conduzido por Ray et al. (2015), explora os efeitos positivos da leitura em diferentes aspectos da saúde mental. Os pesquisadores descobriram que o hábito de ler regularmente está associado a uma redução significativa nos níveis de estresse, ansiedade e depressão. Além disso, a leitura também foi correlacionada com uma melhor capacidade de enfrentamento diante de desafios emocionais e uma maior resiliência psicológica. 


Longevidade: Escrevendo Capítulos Extras em Nossa História


Estudos epidemiológicos mostram que os leitores frequentes tendem a viver mais do que aqueles que não têm o hábito de ler regularmente. Essa associação pode ser atribuída aos benefícios físicos e mentais da leitura, que contribuem para uma vida mais saudável e satisfatória. Um estudo, intitulado “Book reading increased survival by up to 23 percent”, examinou os hábitos de leitura de 3.635 homens e mulheres com idade igual ou superior a 50 anos, usando dados do Health and Retirement Study, uma amostra representativa nacional de adultos americanos. No início do estudo, todos os participantes relataram seus hábitos de leitura. Durante um período médio de acompanhamento de 12 anos, a sobrevivência dos participantes foi monitorada. Os resultados revelaram que os adultos que liam livros regularmente tinham uma probabilidade significativamente menor de morrer ao longo dos 12 anos de acompanhamento. Aqueles que liam livros por até 3 ½ horas por semana tinham 17% menos probabilidade de morrer, enquanto os que liam por mais de 3 ½ horas semanalmente tinham 23% menos probabilidade de morrer. Em média, os adultos que liam livros viveram quase 2 anos a mais durante o período de acompanhamento de 12 anos em comparação com os não leitores. Esses resultados destacam a importância da leitura na promoção da longevidade e na melhoria da saúde geral.


Países com altos índices de leitura tendem a apresentar maiores expectativas de vida. Por exemplo, na Islândia, onde a leitura é uma parte integrante da cultura, a expectativa de vida é uma das mais altas do mundo. O mesmo padrão pode ser observado em países escandinavos, como Noruega, Suécia e Finlândia, onde a leitura é valorizada desde cedo e os índices de longevidade são notáveis. Por exemplo, um estudo comparativo entre França e Brasil mostrou que os franceses leem em média 21 livros por ano, enquanto os brasileiros leem apenas 4. Não surpreendentemente, a expectativa de vida na França é significativamente maior do que no Brasil.


Os livros não são apenas fontes de entretenimento e conhecimento, mas também aliados poderosos para uma vida mais saudável e plena. Ao cultivar o hábito da leitura, estamos investindo em nosso bem-estar físico, mental e emocional, construindo uma narrativa de saúde e longevidade que pode durar por muitos capítulos. Então, que tal abrir um livro hoje e começar essa jornada?


Referências:

ARCE RENTERÍA, M. et al. Illiteracy, dementia risk, and cognitive trajectories among older adults with low education. Neurology, v. 93, n. 24, 2019.

BEANS, C. How stories and narrative move the heart—literally. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, v. 119, n. 22, 2022.

International research publication house, publishes journals on computer science, electronics, mechanics, physics, chemistry, mathematics and management. Disponível em: <http://www.irphouse.com>. Acesso em: 21 abr. 2024.

LAW, M. et al. Reading “can help reduce stress”. Sunday telegraph, 30 mar. 2009.

LEVINE, S. L. et al. For the love of reading: Recreational reading reduces psychological distress in college students and autonomous motivation is the key. Journal of American college health: J of ACH, v. 70, n. 1, p. 158–164, 2022.

KIDD, D. C.; CASTANO, E. Reading literary fiction improves theory of mind. Science (New York, N.Y.), v. 342, n. 6156, p. 377–380, 2013.

RAI, M. K.; LOSCHKY, L. C.; HARRIS, R. J. The effects of stress on reading: A comparison of first-language versus intermediate second-language reading comprehension. Journal of educational psychology, v. 107, n. 2, p. 348–363, 2015.

WILSON, R. S. et al. Life-span cognitive activity, neuropathologic burden, and cognitive aging. Neurology, v. 81, n. 4, p. 314–321, 2013.


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