Está cada vez mais claro que precisamos conhecer com mais propriedade o que a química tem a nos explicar sobre a composição dos óleos essenciais.
Os benefícios do uso terapêutico dos óleos essenciais vem sendo crescentemente reportados em diversas pesquisas científicas, como a de Afshar et al que teve como objetivo determinar o efeito do óleo essencial de lavanda (Lavandula angustifolia) na qualidade do sono de puérperas. Esse ensaio clínico randomizado com grupo controle teve a participação de 158 mães distribuídas aleatoriamente em dois grupos, um controle e um de intervenção e os resultados mostraram que após 8 semanas de acompanhamento houve melhoria significativa no qualidade do sono do grupo de intervenção.
Essas verdadeiras riquezas naturais são formadas por uma diversidade fantástica de substâncias orgânicas, ou seja, substâncias que possuem átomos de carbono ligados entre si ou a átomos de hidrogênio.
Essa classe de substâncias – as orgânicas – apresentam muitas diferenças estruturais entre si e, para melhor compreendê-las, a química separa-as em grupos funcionais.
Hidrocarbonetos, álcool, cetonas, ácido carboxílico, aminas, amidas são algumas dessas funções orgânicas. Os grupos funcionais dos compostos presentes nos óleos essenciais são fundamentais para entendermos suas propriedades.
Quando olhamos para a estrutura das moléculas presentes nessa mistura que chamamos de óleo essencial, observamos vários grupos funcionais.
Muitas das substâncias presentes nos óleos essenciais possuem ligações duplas entre átomos de carbonos, permitindo caracterizá-las como hidrocarbonetos do tipo alceno, como por exemplo o mirceno, alfa-pineno e limoneno, um dos componentes majoritários dos óleos essenciais de cascas de Citrus.
O germacreno D (fig.1), um dos compostos majoritários do óleo essencial de ylang-ylang ( Cananga odorata) com ação antimicrobiana, também é considerado um alceno.
Já a molécula de geraniol (fig.2), um dos compostos majoritários do óleo essencial de Gerânio (Pelargonium graveolens) e Palmarosa (Cymbopogon martinii) está inserido no grupo funcional álcool, uma classe de moléculas orgânicas caracterizada por ter em sua estrutura o grupo hidroxi (- OH) ligado a um carbono saturado. Esse álcool também faz parte da composição dos óleos essenciais de capim-limão (Cymbopogon citratus) e citronela (Cymbopogon nardus ).
O Terpineol-4 (fig.3) também é um álcool e é uma molécula presente em diversos óleos essenciais, sendo um dos compostos químicos em maior porcentagem no óleo essencial de Tea Tree ( Melaleuca alternifolia).
Uma das substâncias representante do grupo funcional das cetonas é a Tujona, uma molécula que possui dois isômeros: o alfa-Tujona (fig.4) e o beta-Tujona (fig.5). O primeiro, responsável por 65,5 % de toda a composição química do óleo de Sálvia (Salvia officinalis).
As cetonas apresentam em sua estrutura o grupo carbonila, onde há uma ligação dupla entre um átomo de oxigênio e um átomo de carbono da cadeia principal. Os compostos que estão dentro desse grupo funcional apresentam no final da sua nomenclatura oficial o sufixo -ona. Como exemplo, temos a carvona (fig.6), nome comum do composto químico em maior porcentagem no óleo essencial da Menta-spicata ( Mentha spicata), 71,62%, e a e-mentona, uma das substâncias majoritárias do óleo essencial tanto da Hortelã-pimenta (Mentha piperita) e Menta arvensis ( Mentha arvensis).
Mas porque é importante saber diferenciar as substâncias presentes nos óleos essenciais de acordo com seus grupos funcionais?
Bem, a divisão por grupos funcionais nos ajuda a entender as propriedades físicas e químicas que essas substâncias apresentam e, assim, podemos monitorar seu comportamento diante de várias situações.
Como os óleos essenciais apresentam diversas substâncias em sua composição, aos termos conhecimento dos grupos funcionais a que pertencem os compostos de interesse neles presentes, podemos, por exemplo, ficar atentos à temperatura do local de armazenamento para que não hajam perdas indesejadas e o óleo essencial seja utilizado da forma mais adequada para a finalidade desejada, além de contribuir no monitoramento dos diferentes processos de sua obtenção. Conhecer um pouco mais sobre a estrutura das moléculas que compõem os óleos essenciais é estar cada vez mais conectado à essência da natureza.
Gostou de saber sobre isso?
Espero ter te ajudando ao menos um pouquinho a atender um pouco do que a química tem a nos explicar sobre a composição dos óleos essenciais.
REFERÊNCIAS
McMurry, J.; Química Orgânica, 7ª ed. Combo, Cengage Learning, São Paulo, 2011.
Imura M, Misao H, Ushijima H. The psychological effects of aromatherapy-massage in healthy postpartum mothers. J Midwifery Womens Health. 2006 Mar-Apr;51(2):e21-7. doi: 10.1016/j.jmwh.2005.08.009. PMID: 16504900.
Keshavarz Afshar M, Behboodi Moghadam Z, Taghizadeh Z, Bekhradi R, Montazeri A, Mokhtari P. Lavender fragrance essential oil and the quality of sleep in postpartum women. Iran Red Crescent Med J. 2015;17(4):e25880. Published 2015 Apr 25. doi:10.5812/ircmj.17(4)2015.25880