Escrever um texto sobre medicina tradicional chinesa (MTC) e aromaterapia é trazer para o papel e proporcionar a quem o lê, o contato com duas formas milenares de tratar o corpo e a mente.
Espero que você tenha uma leitura agradável, leve, mas cheia de conteúdo e que aumente sua curiosidade e suas reflexões sobre possibilidades de cuidados para sua saúde e daqueles que são importantes para você.
A história da medicina tradicional chinesa e da aromaterapia remontam aos tempos mais antigos. Os primeiros registros da utilização e classificação de diversas plantas e mesmo a orientação para a sua utilização nas mais diversas formas na medicina chinesa são atribuídos ao Imperador Shen Nong (você pode encontrar com a grafia de Shen nung ou Shennong) em seus registros datados de 2.700 a.C. Da mesma forma, o uso da aromaterapia tem seu registro encontrado em pelo menos duas das civilizações mais antigas do mundo conhecido, a do Egito e a da Mesopotâmia.
Portanto, não há nenhuma novidade no uso das diversas partes das plantas na manutenção ou obtenção da saúde.
Mas o objetivo deste texto é proporcionar maior entendimento e conhecimento sobre as possibilidades da utilização da aromaterapia dentro da visão da medicina chinesa, e da união desses dois conhecimentos resultar em uma melhor qualidade de vida.
Todos devemos e merecemos ser entendidos e avaliados em nossas dores e dificuldades levando em conta os vários aspectos do nosso ser que nos tornam únicos e completos. Temos que ser entendidos como uma unidade que reflete os aspectos físicos, emocionais e sociais. A medicina chinesa entende o indivíduo dessa forma ampla.
O funcionamento do nosso corpo sofre a influência de fatores externos como frio, calor, umidade, e nosso ritmo de vida. Há fatores chamados internos que também influenciam o nosso corpo, são eles as emoções e a qualidade de nossa alimentação. Os fatores externos, na maioria das vezes conseguimos controlar. Nos protegemos do frio, e do calor extremo, e sabemos que temos que ser inteligentes e atentos no não abuso de horas de trabalho e na preservação de horas de lazer e descanso. Isso não é novidade para ninguém. Da mesma forma, muito tem se falado sobre o controle das emoções e qualidade de nossa alimentação. É exatamente dentro deste conceito do controle das emoções que podemos unir aos conceitos da medicina tradicional chinesa a aromaterapia como uma poderosa ferramenta na busca pela saúde.
São várias as formas de conhecimento que tentam reconhecer as propriedades da aromaterapia dentro da perspectiva da MTC.
Tenho certeza de que já teve contato ou já leu em algum lugar o conceito de Yin e Yang. É um dos conceitos mais conhecidos com origem na cultura oriental e difundido no ocidente, e é nele que se baseia o entendimento da MTC sobre o homem, o correto funcionamento do seu organismo e a manutenção da sua saúde.
Relembrando rapidamente que Yang conceitualmente está relacionado ao calor, ao movimento, ao dia, à claridade e a tudo o que é sutil e imaterial. O Yin está relacionado ao frio, à calma, à noite, ao escuro e a tudo que é denso e material.
Se utilizarmos somente esses dois conceitos, já poderíamos classificar, ou melhor dividir algumas plantas de acordo com suas características, de acordo com o que o seu uso pode nos proporcionar. Por exemplo,ao sentirmos o aroma do gengibre ou do alecrim podemos nos sentir mais atentos ou mais agitados. Essas características vão de encontro com os elementos de característica Yang, poderíamos então classificá-los como aromas Yang.
Se por outro lado, ao inalarmos o aroma da lavanda ou da camomila poderemos nos sentir mais calmos e tranquilos o que nos levaria a classificar a lavanda e a camomila com características Yin.
Mas nem tudo é tão fácil assim, não é mesmo? Apesar de ser um conceito fundamental para a determinação de como um aroma vai agir em seu corpo, temos que ampliar nosso raciocínio.
Os conceitos atribuídos ao Yin e ao Yang parecem bem antagônicos, não é? Opostos na verdade. Entretanto, na realidade, essas duas manifestações de energia são também complementares. Serão somente opostos se você se prender e pensar de uma forma simples, reta e direta, como costuma ser o olhar e o pensar ocidental: “ou tem ou não tem”; “ou é branco ou é preto”; “ou é dia ou é noite”.
Mas, permita-se ter um olhar mais abrangente, tente olhar o amplo e tente reconhecer o todo presente em tudo, não só em um pedaço.
O dia só existe por causa da noite.
O frio só existe porque existe calor!!!!
A noite não aparece de repente, a claridade do dia vai aos poucos sendo substituída pelo escuro da noite, nada é só de uma forma ou de outra, tudo é complementar, isso apesar de algumas vezes também serem opostas.
Se prestarmos atenção nessa figura comum da representação do Yin e do Yang (o TAO), vamos ver que dentro do lado branco que representa o Yang, temos uma bolinha preta; assim como dentro do lado preto, que representa o Yin, temos uma bolinha branca. Isso não tem motivação estética ou mesmo foi colocado para deixar mais bonito. Na verdade, é a representação que dentro da energia Yang encontramos o Yin, assim como dentro do Yin encontramos o Yang.
O pensamento circular de transformação presente em todos os conceitos da medicina chinesa devem ser sempre observados. Esse pensamento está presente tanto na avaliação, quanto na determinação de qual o melhor recurso para restaurar a saúde. Portanto, se nos propusermos a usar a aromaterapia em conjunto com o entendimento da MTC também temos que ter o olhar mais abrangente dentro dos conceitos de transformações energéticas existentes em cada ação de cada aroma.
Uma forma de conseguirmos ampliar o olhar sobre a ação de cada aroma é através do conceito dos cinco movimentos ou cinco elementos.
É outro conceito já muito difundido sobre a medicina chinesa, onde podemos ver e entender o ciclo de geração de energia que é utilizado na compreensão dos processos de transformação que ocorrem em nosso corpo e mantém o equilíbrio do funcionamento dos nossos órgãos internos e, portanto, da nossa saúde.
Os cinco elementos envolvidos no ciclo de geração e transformação de energia em nosso corpo são: o fogo, a terra, o metal, a água e a madeira.
Esse ciclo é contínuo onde o elemento fogo gera o elemento terra, que gera o elemento metal, que por sua vez gera o elemento água que gera a madeira, que gera o elemento fogo, fechando o ciclo e começando tudo novamente e infinitamente.
Cada elemento influencia o funcionamento de um órgão e uma víscera interna.
Por outro lado, cada elemento é influenciado por uma emoção. Essas relações estão apresentadas na figura a seguir:
Então, vamos pensar: se uma emoção pode influenciar um dos elementos envolvidos no ciclo de geração de energia alterando assim o equilíbrio e o funcionamento dos meus órgãos internos, posso sim conquistar ou manter a saúde através do cuidado emocional.
É por essa razão que a aromaterapia se mostra um potente aliado no tratamento e no restabelecimento da saúde. Essa relação corpo/mente que as medicinas ocidentais só começaram a levar novamente em consideração como causadores de doenças na década de 50 já era entendido e tratado pelas medicinas orientais há milênios.
Alguns estudos já comprovam a eficiência da aromaterapia para tratamentos de depressão e ansiedade (Ebrahimi et al, 2020). Não é difícil em nossa casa, em nosso convívio social não nos depararmos com o uso da aromaterapia de forma empírica.
Alguns aromas por sua atividade intrínseca cerebral ou mesmo dentro das complexas conexões com o nosso repertório de lembranças, pode evocar ou trazer à tona alguma emoção. Pode ainda nos levar a um lugar ou uma emoção boa, ou mesmo renovar a nossa disposição e energia.
É exatamente por sua ligação com a evocação das emoções que podemos fazer o uso dos aromas para influenciar energeticamente o funcionamento de alguns órgãos.
Uma das mais divulgadas formas de entender como um aroma pode atuar nos elementos do ciclo de geração de energia e influenciar o funcionamento dos órgãos internos, é levando em consideração qual parte da planta foi utilizada para a produção do aroma.
- Se o aroma foi extraído das flores, a sua ação será sobre o elemento Fogo e portanto, vai atuar sobre a emoção da alegria, da euforia que influenciam o Coração e o Intestino Delgado.
- Aromas originados de raízes têm ação sobre o elemento Terra, e portanto, atuam sobre sentimentos como a preocupação e influenciam o Baço e o Estômago.
- Já os aromas originado das folhas tem ação sobre o elemento Metal, e portanto, atuam sobre sentimentos como tristeza e timidez, influenciando a atividade do Pulmão e do Intestino Grosso
- Os aromas originados de cascas têm ação sobre o elemento Madeira, e portanto, atuam sobre a raiva, a ira, as decepções e amarguras e influenciando o Fígado e a Vesícula Biliar.
- E por fim, os aromas originados de resinas tem ação sobre o elemento água e, portanto, atuam no medo, na desconfiança e influenciam o Rim e a Bexiga.
Unindo os conceitos e práticas da medicina chinesa com a riqueza fornecida pela natureza na produção dos mais variados aromas, temos em mãos potentes ferramentas para o cuidado e autocuidado para garantir ou adquirir mais saúde e qualidade de vida.
Cuide-se! Viver bem pode ser uma escolha!
REFERÊNCIA
Ebrahimi H, Mardani A, Basirinezhad MH, Hamidzadeh A, Eskandari F. The effects of Lavender and Chamomile essential oil inhalation aromatherapy on depression, anxiety and stress in older community-dwelling people: A randomized controlled trial. Explore (NY). 2022;18(3):272-278. doi:10.1016/j.explore.2020.12.012