O Impacto da Dieta no Tratamento do Transtorno Pós-Traumático 

Você já parou para pensar que a comida que colocamos em nossos pratos pode ter um impacto profundo em nossa saúde mental? Cada vez mais evidências científicas estão emergindo para sugerir que a dieta desempenha um papel crucial no manejo dos sintomas do Transtorno Pós-Traumático (TEPT ou PTSD).

O Transtorno Pós-Traumático (TEPT ou a sigla em inglês PTSD) é uma condição mental debilitante que pode surgir após a exposição a eventos traumáticos. Embora a terapia e os medicamentos sejam comumente utilizados no tratamento do TEPT, cada vez mais evidências científicas estão emergindo para sugerir que a dieta pode desempenhar um papel significativo no manejo dos sintomas. Neste artigo, exploraremos o impacto da dieta no tratamento do TEPT, baseando-nos em evidências científicas recentes.

1. Dieta e Inflamação:

Estudos têm demonstrado que a inflamação crônica está associada ao TEPT (Dell ´Oste et al, 2023). A dieta desempenha um papel crucial na modulação dos processos inflamatórios do corpo (Giugliano et al, 2006, Hess et al, 2021). Dietas ricas em alimentos anti-inflamatórios, como frutas, vegetais, nozes e peixes ricos em ômega-3, podem reduzir a inflamação e potencialmente aliviar os sintomas do TEPT (GALLAND et al, 2010).

2. Micronutrientes e Neurotransmissores:

Certos nutrientes desempenham um papel fundamental na regulação dos neurotransmissores envolvidos no controle do humor e do estresse. Por exemplo, o triptofano é um aminoácido precursor da serotonina, conhecida como neurotransmissor do bem-estar. Dietas deficientes em triptofano podem afetar negativamente a função serotoninérgica e a regulação do humor, exacerbando os sintomas do TEPT (LINDSETH ET AL, 2015).

 

3. Microbiota Intestinal:

A saúde intestinal desempenha um papel crucial na regulação do sistema imunológico e na produção de neurotransmissores. A disbiose intestinal, um desequilíbrio na composição da microbiota intestinal, foi associada a distúrbios psiquiátricos, incluindo o TEPT (HEMMINGS ET AL, 2017). Dietas ricas em fibras, probióticos e prebióticos podem promover a saúde intestinal e melhorar os sintomas relacionados ao estresse e à ansiedade (OPIE et al, 2015, RADKHAH et al, 2023).

Dieta e TEPT

Um recente estudo conduzido por KE e colaboradores, publicado na revista Nature Mental Health, oferece uma contribuição significativa para o entendimento da relação entre o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), padrões dietéticos e microbiota intestinal em mulheres. Ao examinar a associação entre o TEPT provável, dieta e microbiota intestinal em uma coorte de mulheres, os pesquisadores identificaram padrões alimentares específicos e alterações na composição da microbiota intestinal que podem estar associadas à prevalência do TEPT. Esses achados fornecem insights valiosos sobre o papel da dieta e da saúde intestinal na manifestação e no manejo do TEPT, destacando a importância de abordagens integradas no tratamento dessa condição mental.

Estima-se que aproximadamente 4% da população mundial desenvolva Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) em algum momento da vida (Koenen et al., 2017). Embora muitas pessoas sejam expostas a eventos traumáticos, apenas uma pequena porcentagem desenvolve o transtorno. A hipótese dos pesquisadores é que a dieta e o microbioma intestinal, ou seja, as bactérias que habitam o intestino, podem desempenhar um papel importante na explicação dessa discrepância (KE et al., 2023). 

Embora a terapia e os medicamentos continuem sendo pilares no tratamento do Transtorno Pós-Traumático, a dieta emerge como um complemento promissor. Através da modulação da inflamação, regulação dos neurotransmissores e promoção da saúde intestinal, uma dieta balanceada pode desempenhar um papel significativo na melhoria dos sintomas do TEPT. No entanto, são necessárias mais pesquisas para entender completamente o papel da dieta e identificar estratégias dietéticas específicas para indivíduos com TEPT.

Referências:

DELL’OSTE, V. et al. Metabolic and inflammatory response in Post-Traumatic Stress Disorder (PTSD): A systematic review on peripheral neuroimmune biomarkers. International journal of environmental research and public health, v. 20, n. 4, p. 2937, 2023.

GALLAND, L. Diet and inflammation. Nutrition in clinical practice: official publication of the American Society for Parenteral and Enteral Nutrition, v. 25, n. 6, p. 634–640, 2010.

GIUGLIANO, D.; CERIELLO, A.; ESPOSITO, K. The effects of diet on inflammation. Journal of the American College of Cardiology, v. 48, n. 4, p. 677–685, 2006.

HALL, K. S.; HOERSTER, K. D.; YANCY, W. S. Post-traumatic stress disorder, physical activity, and eating behaviors. Epidemiologic reviews, v. 37, n. 1, p. 103–115, 2015.

HEMMINGS, S. M. J. et al. The microbiome in posttraumatic stress disorder and trauma-exposed controls: An exploratory study. Psychosomatic medicine, v. 79, n. 8, p. 936–946, 2017.

HESS, J. M. et al. Exploring the links between diet and inflammation: Dairy foods as case studies. Advances in nutrition (Bethesda, Md.), v. 12, p. 1S-13S, 2021.

HUNTER, P. The inflammation theory of disease: The growing realization that chronic inflammation is crucial in many diseases opens new avenues for treatment. EMBO reports, v. 13, n. 11, p. 968–970, 2012.

Inflammation and PTSD Disponível em: <https://www.ptsd.va.gov/publications/rq_docs/V29N4.pdf>. Acesso em: 23 abr. 2024.

KE, S. et al. Association of probable post-traumatic stress disorder with dietary pattern and gut microbiome in a cohort of women. Nature mental health, v. 1, n. 11, p. 900–913, 2023.

KOENEN, K. C. et al. Posttraumatic stress disorder in the World Mental Health Surveys. Psychological medicine, v. 47, n. 13, p. 2260–2274, 2017.

LINDSETH, G.; HELLAND, B.; CASPERS, J. The effects of dietary tryptophan on affective disorders. Archives of psychiatric nursing, v. 29, n. 2, p. 102–107, 2015.

O’DONOVAN, A. PTSD is associated with elevated inflammation: any impact on clinical practice? Evidence-based mental health, v. 19, n. 4, p. 120–120, 2016.

OPIE, R. S. et al. The impact of whole-of-diet interventions on depression and anxiety: a systematic review of randomised controlled trials. Public health nutrition, v. 18, n. 11, p. 2074–2093, 2015.

 

RADKHAH, N. et al. The effect of Mediterranean diet instructions on depression, anxiety, stress, and anthropometric indices: A randomized, double-blind, controlled clinical trial. Preventive medicine reports, v. 36, n. 102469, p. 102469, 2023.

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