Soluções Naturais no Combate a Depressão Pós Parto

É relativamente comum ter o conhecimento, seja pessoalmente ou pelos jornais e redes sociais de alguma mulher que teve sintomas com diferentes intensidades de depressão pós parto ou até o diagnóstico definido. A dificuldade em entender a importância e gravidade do assunto é o que motiva a divulgação deste artigo. Aqui, além de trazer dados e pesquisas sobre o tema, abordaremos várias soluções naturais como fitoterapia, nutracêuticos e probióticos.

 

 

Segundo a Organização Mundial de Saúde, a prevalência de Depressão Pós-Parto (DPP), no Brasil,  é cerca de 26%, sendo mais elevada que a média estimada para países de baixa renda (com aproximadamente 20%). Entretanto, uma recente pesquisa publicada em 2021 no Journal of Nursing and Health(7) com puérperas atendidas em unidades básicas da família, em Teresina (PI), mostra que a prevalência da DPP pode ser ainda maior,  39,13%. 

 

 

A DPP pode se apresentar com intensidade grave a moderada e fica mais evidente, geralmente após os seis primeiros meses após o parto, embora muitas mulheres já manifestem essa doença durante a gestação e muitos casos não recebem o diagnóstico correto durante os pré-natais. 

 

 

 


A depressão Pós-Parto (DPP) é mais comum do que imaginamos

 

A DPP é muito mais comum do que imaginamos. Por que?

 

Durante a gravidez os hormônios femininos sofrem alterações drásticas e muitas vezes as condições psicológicas das mulheres são bastante afetadas e muitas se sentem vulneráveis e até mesmo fragilizadas. Soma-se a esses fatores fisiológicos, as variáveis socioeconômicas, falta de assistência médica e falta de informação da gestante e parceiro sobre o assunto. 

 


Uma das consequências da DPP é a interrupção da amamentação, o que pode influenciar negativamente o relacionamento entre mãe e filho comprometendo a capacidade da criação de vínculos saudáveis e estáveis. Além disso, a mulher que está em depressão pós-parto, normalmente, não cumpre o calendário vacinal dos bebês (8). As crianças, por sua vez, têm maior risco de apresentar baixo peso e transtornos psicomotores, além de outros problemas de saúde.

 

É extremamente importante priorizar  a prevenção ou o diagnóstico precoce da DPP. Entretanto, esse problema quando diagnosticado, pode ser tratado. Estudos têm mostrado que quando a DPP é tratada assim que diagnosticada, seja antes ou logo após o parto, a probabilidade de uma depressão de intensidade grave pode ser reduzida.

 


Políticas públicas de saúde devem ser desenhadas levando em consideração esses fatores
. A França é um exemplo de cuidado em saúde da mulher no pós parto, o governo apoia no auxílio com uma babá caso a mãe solicite. Outro fator importante no desenho dessas políticas públicas é considerar soluções naturais para tratamento e apoio da depressão. Muitas evidências científicas envolvendo o uso de ervas medicinais e fitoterápicos têm mostrado apoio no tratamento da depressão. Esses fitoterápicos podem estar ou não associados ao tratamento medicamentoso. Há outras medidas que podem contribuir para a melhora do paciente, como dieta, meditação, atividade física, musicoterapia, arte e contato com a natureza. Por isso, vale ressaltar o cuidado no desenho dessas políticas públicas considerando equipes multidisciplinares de saúde no atendimento dessas puérperas.

 

Voltando à contribuição das plantas medicinais e/ou medicamentos fitoterápicos, estes também podem ser levados em consideração no desenho dessas políticas públicas.  Por exemplo, o município e estado e governo federal podem considerar Farmácias Vivas integradas aos pronto atendimentos de saúde. Alguns cuidados devem ser priorizados. É necessário considerar as interações medicamentosas dos remédios que foram  prescritos pelo médico com os fitoterápicos. Por isso, a capacitação da equipe de saúde em soluções naturais para apoio ao tratamento da depressão deve ser priorizada. Além disso, é preciso mais estudos científicos consistentes, que possam trazer segurança e eficácia em seu uso. 

 

De qualquer forma, algumas plantas medicinais podem contribuir com aquelas pacientes que se encontram em estado de tristeza ou ansiedade e que não utilizam medicamentos psiquiátricos. São eles:

 


Depressão e Fitoterapia 

 

A seguir descrevemos algumas possibilidades de ervas e suplementos para apoio ao tratamento da depressão que mostraram evidências científicas:

 


Matricaria Recutita (Camomila)

 

A Matricaria recutita (camomila) pode ser uma opção para apoio no tratamento da ansiedade e depressão. Ensaios clínicos e revisão têm mostrado evidências que a camomila pode ter efeitos significativos no tratamento de depressão e ansiedade (9.1). Pode-se utilizar as inflorescências como forma de infusão. Entre várias indicações, existe a de ansiolítico e sedativo leve. 

 

Deve ser evitada por gestantes devido à atividade emenagoga (que aumenta o fluxo menstrual) e relaxante da musculatura lisa. Um estudo de 2019 mostra que  (M. chamomilla L. pode produzir efeitos antidepressivos clinicamente significativos, além de sua atividade ansiolítica em indivíduos com TAG e depressão comórbida (9.2). Entretanto, futuros ensaios clínicos controlados em indivíduos com depressão são necessários para validar esta observação preliminar.

 


Rhodiola (Rhodiola rosea)

 

A Rhodiola conhecida por raiz de ouro ou raiz dourada, é uma erva medicinal associada a uma variedade de benefícios potenciais à saúde quando ingerida na forma de suplemento. Isso inclui redução dos sintomas depressivos e melhora na resposta ao estresse, o que pode ajudar seu corpo a se adaptar a situações estressantes.

 


A erva pode exercer efeitos antidepressivos por meio de sua capacidade de aumentar a comunicação das células nervosas e reduzir a hiperatividade do eixo hipotálamo-pituitária-adrenocortical (HPA). Esse eixo é um sistema complexo que regula a resposta do corpo ao estresse. A pesquisa sugere que a hiperatividade do eixo HPA pode estar associada à maior depressão (10). A rhodiola rosea  afeta o receptor do neurotransmissor e as redes moleculares, o que tem efeito benéfico no humor (11). Um estudo clínico realizado com 57 pessoas com depressão mostrou que, após 12 semanas, da ingestão de 340 mg/dia dessa erva houve redução significativa nos sintomas de depressão (11).

 

Um estudo observacional publicado em 2018, sugere que a combinação de rhodiola e açafrão  pode ser útil para o cuidado da depressão leve a moderada e melhorar significativamente os sintomas depressivos e de ansiedade (12). Ressaltamos que mais estudos, como um duplo-cego controlado por placebo é necessário para confirmar esses resultados.

 


Açafrão 

 

O açafrão é uma raiz laranja de cor viva repleta de compostos antioxidantes, incluindo os carotenóides crocina e crocetina. Essa raiz medicinal, utilizada como tempero na Índia, tem se mostrado promissora para tratamento natural para a depressão. Estudos observaram que aumenta os níveis do neurotransmissor serotonina, que aumenta o humor no cérebro. Embora não se saiba exatamente como esse processo funciona, acredita-se que o açafrão inibe a recaptação da serotonina, mantendo-a no cérebro por mais tempo.

 


Com base em uma revisão de cinco ensaios clínicos randomizados (n = 2 placebo e ensaios controlados, n = 3 ensaios controlados com antidepressivos) foi encontrado um efeito significativo para a suplementação de açafrão vs. controle de placebo no tratamento de sintomas depressivos (13). No entanto, estudos maiores com períodos de acompanhamento mais longos são necessários para avaliar a capacidade do açafrão em ajudar a tratar a depressão e entender o mecanismo de funcionamento.

 


Depressão e Nutracêuticos 

 

Ômega-3 

 

Alguns estudos mostram que os suplementos de ômega-3 podem ajudar a tratar a depressão. As gorduras ômega-3 são gorduras essenciais, o que significa que nós não produzimos esse composto, você precisa obtê-lo de sua dieta.  Uma análise de 2020 de ensaios de controle randomizados incluindo 638 mulheres revelou que os suplementos de ácido graxo ômega-3 melhoraram significativamente os sintomas depressivos em mulheres grávidas e no pós-parto (14. 16). As maiores fontes de ômega 3 são peixes gordos (arenque, cavalinha, salmão, sardinha) e chia e linhaça.  Eles também podem ajudar a tratar a depressão em certas populações. No entanto, mais pesquisas são necessárias.

 


NAC (N-acetilcisteína)
 

 

NAC é um precursor dos aminoácidos L-cisteína e glutationa. A glutationa é considerada um dos antioxidantes mais importantes do corpo e é fundamental para regular a inflamação e proteger as células contra os danos oxidativos (17).  O NAC pode oferecer diversos benefícios à saúde, dentre eles foi demonstrado que o NAC pode  aumentar os níveis de glutationa do seu corpo. A glutationa é um poderoso antioxidante do organismo. A pesquisa mostra que as pessoas com depressão são mais propensas a ter níveis mais elevados de citocinas inflamatórias. Os estudos têm mostrado que doses de 2 a 2.4g ao dia podem ser eficientes na melhora de quadros depressivos de leve a moderado e diminuir o quadro inflamatório causado pelo excesso de citocinas (15).

 


Magnésio

 

O  magnésio é um mineral que tem se mostrado importante no tratamento da ansiedade e depressão.  

 

O magnésio é um dos elementos mais importantes do corpo humano e está envolvido em uma série de processos bioquímicos cruciais para o bom funcionamento dos sistemas cardiovascular, alimentar, endócrino e osteoarticular. Ele também desempenha um papel modulador vital na bioquímica do cérebro, influenciando várias vias de neurotransmissão associadas ao desenvolvimento da depressão. Mudanças de personalidade, incluindo apatia, depressão, agitação, confusão, ansiedade e delírio são observadas quando há deficiência desse elemento. Vários estudos pré-clínicos e clínicos têm mostrado o potencial de melhorar o humor dos compostos de magnésio. Parece que a suplementação de magnésio é bem tolerada e aumenta a eficácia dos tratamentos antidepressivos convencionais (18). Além disso, a semente de abóbora é uma boa fonte desse mineral.

 


Depressão e Probióticos

 

Vários estudos têm mostrado que os probióticos foram associados a uma redução significativa na depressão, ressaltando a necessidade de pesquisas adicionais sobre esta potencial estratégia preventiva para a depressão (19).

 

Nesse estudo um subgrupo de indivíduos com 60 anos ou menos e que ingeriram os probióticos orais mostraram reduzir efetivamente as escalas de avaliação da depressão. Para o grupo de indivíduos com 65 anos ou mais não houve redução significativa estatística (19). Entretanto, como esse grupo (65 anos ou mais) mais estudos precisam ser realizados para essa conclusão.

 

Os probióticos Lactobacillus helveticus R0052 e Bifidobacterium longum ingeridos por 30 dias mostraram diminuição do estresse psicológico, incluindo depressão, em indivíduos que tomaram os probióticos regularmente. Outro estudo, conduzido por Benton et al. [20], mostrou que o iogurte probiótico melhorou o humor das pessoas. Ainda, há a necessidade de muitas pesquisas robustas sobre a suplementação desses probióticos no cuidado da depressão, mas é uma janela de oportunidades para apoio e prevenção do “mal do século”. Ficaremos de olho nas pesquisas  para vocês!

 
 

 

Referências:

 

 

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Indicadores sociodemográficos e de saúde no Brasil. [Internet]. Rio de Janeiro: IBGE; 2009[acesso em 2021 abr 29]. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv42597.pdf

(7)Teixeira MG, Carvalho CMS, Magalhães JM, Veras JMMF, Amorim FCM, Jacobina PKF. Detecção precoce da depressão pós-parto na atenção básica. J. nurs. health. 2021;

(8) Ministério da saúde, portal do governo( acesso em 26 de outubro de 2021)

Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/d/depressao-pos-parto

(9)Vermeulen, Esther; Stronks, Karien; Snijder, Marieke B; Schene, Aart H; Lok, Anja; de Vries, Jeanne H; Visser, Marjolein; Brouwer, Ingeborg A; Nicolaou, Mary (2017). A combined high-sugar and high-saturated-fat dietary pattern is associated with more depressive symptoms in a multi-ethnic population: the HELIUS (Healthy Life in an Urban Setting) study. Public Health Nutrition, (), 1–9  Disponível em (acesso em 27 de outubro) 

https://www.researchgate.net/publication/318594939_A_combined_high-sugar_and_high-saturated-fat_dietary_pattern_is_associated_with_more_depressive_symptoms_in_a_multi-ethnic_population_the_HELIUS_Healthy_Life_in_an_Urban_Setting_study

(9.1)Amsterdam, J. D., Shults, J., Soeller, I., Mao, J. J., Rockwell, K., & Newberg, A. B. (2012). Chamomile (Matricaria recutita) may provide antidepressant activity in anxious, depressed humans: an exploratory study. Alternative therapies in health and medicine, 18(5), 44–49.

(9.2)Jay D. Amsterdam, Qing S. Li, Sharon X. Xie, and Jun J. Mao.The Journal of Alternative and Complementary Medicine.Sep 2020.815-821.http://doi.org/10.1089/acm.2019.0252 

(10)Mao JJ, Xie SX, Zee J, et al. Rhodiola rosea versus sertraline for major depressive disorder: A randomized placebo-controlled trial. Phytomedicine. 2015;22(3):394-399. doi:10.1016/j.phymed.2015.01.010

(11) Amsterdam, Jay D.; Panossian, Alexander G. (2016). Rhodiola rosea L. as a putative botanical antidepressant. Phytomedicine, (), S0944711316000519–. doi:10.1016/j.phymed.2016.02.009 

(12) Bangratz, Marie et al. “A preliminary assessment of a combination of rhodiola and saffron in the management of mild-moderate depression.” Neuropsychiatric disease and treatment vol. 14 1821-1829. 13 Jul. 2018, doi:10.2147/NDT.S169575

(13)Hausenblas, Heather Ann et al. “Saffron (Crocus sativus L.) and major depressive disorder: a meta-analysis of randomized clinical trials.” Journal of integrative medicine vol. 11,6 (2013): 377-83. doi:10.3736/jintegrmed2013056

(14)Zhang, M. M., Zou, Y., Li, S. M., Wang, L., Sun, Y. H., Shi, L., Lu, L., Bao, Y. P., & Li, S. X. (2020). The efficacy and safety of omega-3 fatty acids on depressive symptoms in perinatal women: a meta-analysis of randomized placebo-controlled trials. Translational psychiatry, 10(1), 193. https://doi.org/10.1038/s41398-020-00886-3

(15)Fernandes BS, Dean OM, Dodd S, Malhi GS, Berk M. N-Acetylcysteine in depressive symptoms and functionality: a systematic review and meta-analysis. J Clin Psychiatry. 2016 Apr;77(4):e457-66. doi: 10.4088/JCP.15r09984. PMID: 27137430.

(16)Alvarez-Mon MA, Ortega MA, García-Montero C, Fraile-Martinez O, Monserrat J, Lahera G, Mora F, Rodriguez-Quiroga A, Fernandez-Rojo S, Quintero J, Alvarez-Mon M. Exploring the Role of Nutraceuticals in Major Depressive Disorder (MDD): Rationale, State of the Art and Future Prospects. Pharmaceuticals (Basel). 2021 Aug 21;14(8):821. doi: 10.3390/ph14080821. PMID: 34451918; PMCID: PMC8399392.

(17)Dome P, Tombor L, Lazary J, Gonda X, Rihmer Z. Natural health products, dietary minerals and over-the-counter medications as add-on therapies to antidepressants in the treatment of major depressive disorder: a review. Brain Res Bull. 2019 Mar;146:51-78. doi: 10.1016/j.brainresbull.2018.12.015. Epub 2018 Dec 30. PMID: 30599219.

(18)Peter Dome, Laszlo Tombor, Judit Lazary, Xenia Gonda, Zoltan Rihmer. Natural health products, dietary minerals and over-the-counter medications as add-on therapies to antidepressants in the treatment of major depressive disorder: a review, Brain Research Bulletin, Volume 146, 2019 Pages 51-78,ISSN 0361-9230, https://doi.org/10.1016/j.brainresbull.2018.12.015.

(19)Huang, R.; Wang, K.; Hu, J. Effect of Probiotics on Depression: A Systematic Review and Meta-Analysis of Randomized Controlled Trials. Nutrients 2016, 8, 483. https://doi.org/10.3390/nu8080483

(20) Messaoudi, M.; Lalonde, R.; Violle, N.; Javelot, H.; Desor, D.; Nejdi, A.; Bisson, J.F.; Rougeot, C.; Pichelin, M.; Cazaubiel, M.; et al. Assessment of psychotropic-like properties of a probiotic formulation (Lactobacillus helveticus R0052 and Bifidobacterium longum R0175) in rats and human subjects. Br. J. Nutr. 2011, 105, 755–764. 

(21) Benton, D.; Williams, C.; Brown, A. Impact of consuming a milk drink containing a probiotic on mood and cognition. Eur. J. Clin. Nutr. 2007, 61, 355–361.

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